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A cultura da magreza na Coreia do Sul


A cultura da magreza na Coreia do Sul

Como a música popular coreana está ajudando o desenvolvimento de distúrbios alimentares 



Por Andréa Cardoso



      A música popular coreana, mais conhecida pela abreviação K-Pop, vem conquistando fãs pelo mundo todo desde a década de 90, quando se popularizou. O gênero musical é caracterizado por grupos de meninas e meninos, chamados de idols, que cantam e dançam em sincronia perfeita. Porém, a magreza e as dietas seguidas por esses famosos também chamam a atenção e influenciam muito a população coreana, em muitos casos causando distúrbios alimentares, principalmente nas mulheres.

      Segundo uma matéria da BBC Brasil, nosso país conta com uma taxa de 17,1% de obesos, o que preocupa bastante. Já a Ásia apresenta os menores índices, como o do Japão que é de apenas 3,7% e o da Coreia do Sul, de 4,6%. Ambos os países são conhecidos por dietas saudáveis e pelo alto consumo de comidas tradicionais. Porém atualmente muitos jovens coreanos estão ficando obcecados por dietas extremas. O site brasileiro KoreaPost traduziu uma matéria do jornal The Korea Herald, que entrevistou Alina Shamsutdinova, uma jovem cazaquistanesa que foi estudar na Coreia do Sul em 2011. Ela declarou ter sofrido problemas de autoestima por ouvir que deveria perder peso e na tentativa de entrar nos padrões, a estudante afirmou ter bebido apenas água e leite por uma semana. 

 “Já cheguei há ouvir ‘tudo bem ser feia, mas ser gorda é inaceitável'", declarou a jovem. (Crédito da foto: Alina Shamsutdinova)

      O canal do Youtube KoreaExposé postou um vídeo com ativistas de body positive, um movimento em prol do amor próprio e a quebra dos padrões corporais. Park Ji-Won, uma das jovens afirma que as idols pesam no máximo 48 kg, o que influência as outras mulheres a pensarem que também podem alcançar essa meta e serem bonitas. 
A cantora Sunmi chamou atenção esse ano por suas pernas longas e finas (Créditos da foto: Newsen)
      Em outra matéria do The Korea Herald, traduzida pelo KoreaPost, o professor de alimentação e nutrição Baik In-Kyung da Universidade Kookminde afirmou que privação de comida e pensamentos negativos sobre a imagem corporal são sintomas de anorexia. Aliado a isso, um estudo da Universidade Sahmyook de 2013 prova o quão preocupante é a situação do país. De 154 estudantes universitárias com peso normal que foram entrevistadas, quase 95% declarou não estarem contentes com seus corpos. 
Kyla, integrante do grupo feminino Pristin, sofreu bullying durante as apresentações por estar acima do peso (Créditos da imagem: My Daily)
      É comum os idols darem declarações em programas de televisão do quanto se esforçam para manterem seus pesos, o que incluí comer apenas uma refeição por dia e até mesmo não comer nada. Não existe grande preocupação por parte do governo sul-coreano em estudar mais aprofundadamente os distúrbios alimentares, pois mesmo que seja um problema de saúde pública, é uma questão cultural. O ideal seria que a própria população questionasse a cultura da magreza, mas são poucas as influências locais para que movimentos como o body positive, por exemplo, ganhem força. Além disso, o K-Pop é uma indústria que cada vez mais recebe atenção do mundo e não é de interesse do governo problematizar algo que gera tanto lucro para o país, cerca de US$ 5 bilhões por ano segundo uma matéria da Superinteressante. Não apenas a venda de álbuns de música mas quaisquer itens estampados com o nome e o rosto dos idols, inclusive produtos que estimulam dietas, são capazes de movimentar o mercado. Atualmente o programa de reality show chamado Produce 48 está indo ao ar e as meninas que participam do programa fazem propaganda de um produto chamado Calobye, um alimento específico que auxilia na perda de peso. Algumas das participantes tem apenas 14 anos e já se preocupam com o peso, o que demonstra como a obsessão pelo peso atinge a todos, mas principalmente as jovens.

      A indústria musical coreana é extremamente competitiva, diversos grupos se lançam no mercado todos os anos mas nem todos são capazes de fazer sucesso. Para ingressar na carreira de idol é necessário passar por treinamentos de canto, dança, aprender outras línguas, entre outras atividades. Esse treinamento começa muito cedo, crianças de 11 e 12 anos já assinam contratos com as agências. Entretanto, nem todas as empresas possuem dinheiro suficiente para investir no treinamento desses jovens a ponto deles se tornarem exímios cantores e dançarinos e um corpo magro e um rosto bonito as vezes acaba contanto mais do que o talento em si. Estar abaixo do peso, principalmente para as meninas, faz com que seus rostos sejam realçados, tornando seus olhos mais expressivos, o que faz com que ganhem atenção exclusivamente por suas aparências.

      Alguns grupos de K-pop já fizeram shows no Brasil e se espantaram com a diferença cultural. Se os idols coreanos continuarem fazendo sucesso e visitando outros países, talvez pouco a pouco comecem a perceber o quão cruel e abusiva é a indústria musical do próprio país. Mas isso só o tempo dirá, no momento continuaremos a escutar as tristes declarações desses jovens que se esforçam tanto para atingirem o sucesso. 











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