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Sorte no amor

Sorte no amor
Por: Julia Afonso Castro

    Sentada no ônibus com os olhos presos na janela, a mulher sonhava acordada com seu passado. Afinal, ela estava fazendo dez anos de casamento, um tempo que passou voando repleto de companheirismo, planos e, principalmente, muito amor. O clima estava perfeito naquele dia especial, o sol brilhava e havia uma brisa que levava o calor da cidade grande embora. O casal havia reservado uma mesa em seu restaurante favorito para comemorar o aniversário.
    O casamento aconteceu em um dia como esse, percebeu a mulher, com o mesmo tempo perfeito e a mesma sensação de que tudo era possível. Eles eram jovens quando resolveram se casar e seus pais não concordaram com a decisão, a mulher – na época uma garota – não entendeu porque eles achavam que aquilo seria um erro. O que havia de errado em casar por amor? Por que eles deviam esperar mais tempo? Mesmo quando mal haviam começado a namorar ela tinha certeza de que ele era o amor da vida dela, e essa certeza continuava.

    Ela tinha apenas quinze anos quando se conheceram, estava começando seu ensino médio em um novo colégio, enquanto ele estava no último ano e havia estudado sua vida inteira lá. A primeira vez em que conversaram foi na festa junina da escola, ele se aproximou e lhe deu uma maçã do amor, querendo conhece-la um pouco mais. Apesar de serem tão diferentes a conexão entre eles crescia cada dia mais, passavam todo o tempo que podiam juntos, e seus amigos faziam piada dizendo que o relacionamento deles parecia ter saído direto de uma animação da Disney. Mas era exatamente assim que ela se sentia, vivendo eternamente em um romance perfeito de conto de fadas.
    Seu marido sempre esteve ao seu lado e ela sabia que tinha muita sorte de tê-lo, ele a protegia e consolava. Não era apenas seu homem, era seu amigo, seu companheiro de vida. Esteve ao seu lado quando o seu pai morreu e quando sofreu um aborto, de quem eles imaginavam que iria ser seu primeiro filho. Eles tinham problemas como qualquer casal, mas sempre conseguiram lidar com as suas diferenças. Não havia quem dissesse o contrário; eles eram perfeitos um para o outro.
    O ônibus parou no ponto perto da sua casa e ela desceu, havia trabalhado o dia inteiro e pretendia se arrumar para o jantar, seu marido também deveria chegar em breve. Depois de um banho relaxante, ela decidiu que iria usar, pela primeira vez, o vestido vermelho que havia se dado de presente na semana anterior, ele parecia perfeito para a ocasião.
    Quando ele finalmente chegou para que fossem juntos ao restaurante, ela o esperava pronta no sofá da sala. A mulher ficou radiante ao ver seu “príncipe encantado”, mesmo que eles tivessem se visto naquela manhã. Mas o sorriso do homem se desfez ao vê-la, que tipo de vestido era aquele para se usar em um restaurante caro? “Parece que você está pronta para uma balada”, ela concordou, é claro, ele estava certo. Onde ela estava com a cabeça? Às vezes, ela agia assim, fazendo umas coisas sem sentido, mas tinha sorte de ter ele para trazê-la de volta a realidade. Ela tinha tanta sorte.


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